Gramática: O que é, tipos, divisões e exemplos práticos

Gramática

Definição:
Gramática é o conjunto de regras e princípios que regem a estrutura e o funcionamento de uma língua. Trata-se de uma ciência normativa, descritiva e histórica do idioma, responsável por identificar regularidades, organizar sistemas e estabelecer convenções linguísticas. Ela se divide tradicionalmente em três grandes áreas: fonética e fonologia, morfologia e sintaxe.

Ao se referir à gramática, é comum que se tenha em mente a gramática normativa, voltada para a padronização do uso da língua de acordo com a variedade culta. No entanto, existem diversos tipos de gramática, com objetivos distintos.


Tipos de Gramática

1. Gramática Normativa (ou Prescritiva)

É aquela que prescreve normas de uso da língua conforme a tradição gramatical e os modelos da norma culta. Busca estabelecer um padrão de correção, geralmente inspirado na linguagem escrita de autores consagrados. É frequentemente adotada em ambientes formais e instituições de ensino.

Exemplo:
Vi ele. Encontrei ela.
Embora tais formas sejam comuns na fala brasileira, a gramática normativa recomenda a substituição por pronomes do caso oblíquo: Vi-o. Encontrei-a.
(CUNHA & CINTRA, 2017, p. 302)

2. Gramática Descritiva

Diferentemente da gramática normativa, a gramática descritiva não impõe regras; ela observa e descreve como os falantes realmente utilizam a língua em diferentes contextos. Seu foco está nas regularidades linguísticas espontâneas, sem juízos de valor sobre o que é certo ou errado.

Exemplo:
Eu chegando, a farra vai começar.
Aqui, o pronome “eu” é analisado como sujeito do gerúndio, ampliando a concepção tradicional de sujeito.
(PERINI, 2005, p. 79)

3. Gramática Comparativa

Busca identificar semelhanças e diferenças entre línguas aparentadas, com o objetivo de reconstruir suas origens comuns ou facilitar o aprendizado entre elas. É muito empregada em linguística histórica e ensino de línguas estrangeiras.

Exemplo:
Português: cantar / mão / inteligente
Espanhol: cantar / mano / inteligente
Francês: chanter / main / intelligent
(AZEREDO et al., 2011)

4. Gramática Histórica

Analisa a evolução das línguas ao longo do tempo, explicando mudanças fonéticas, morfológicas e sintáticas em uma perspectiva diacrônica. Também estuda a origem das palavras e expressões.

Exemplo:
Palavras como milhão e bilhão foram incorporadas ao português a partir de compêndios franceses de aritmética.
(M. SAID ALI, 1964, p. 87)


Divisões da Gramática

Fonética e Fonologia

Estudam os sons da língua. A fonética trata da produção e percepção dos sons (aspecto físico), enquanto a fonologia trata do papel funcional dos sons no sistema linguístico (aspecto abstrato).

Exemplo: distinção entre os fonemas /s/ e /ʃ/ em “sapo” e “chave”.

Morfologia

Analisa a estrutura interna das palavras, suas classes gramaticais, processos de formação (derivação, composição) e flexões (de número, gênero, tempo etc.).

Exemplo: a palavra “menininho” é composta por um radical (menin-), um sufixo de diminutivo (-inh-) e uma desinência de gênero masculino (-o).

Sintaxe

Estuda as relações entre as palavras na construção das orações e períodos, bem como as funções que cada termo exerce.

Exemplo: Na oração “O professor corrigiu as provas”, temos: sujeito (O professor), verbo (corrigiu) e objeto direto (as provas).

Outras Áreas Correlatas

  • Semântica: estudo do significado.
  • Pragmática: significado em contexto.
  • Etimologia: origem das palavras.
  • Lexicologia: estudo do léxico.
  • Estilística: efeitos expressivos da linguagem.
  • Literatura: uso artístico da linguagem.

História da Gramática

Os estudos gramaticais têm origem milenar. Os primeiros gramáticos sistemáticos foram os hindus, com destaque para Panini (século V ou IV a.C.), que descreveu o Sânscrito em profundidade com fins religiosos. Na Grécia Antiga, Platão e Aristóteles desenvolveram reflexões filosóficas sobre a linguagem, culminando com Dionísio de Trácia, autor da primeira gramática conhecida do grego (século II a.C.).

Esses modelos influenciaram os romanos e, mais tarde, todo o Ocidente. Em Portugal, as primeiras gramáticas da língua portuguesa datam do século XVI, com Fernão de Oliveira (1536) e João de Barros (1540).

A partir do Renascimento, o estudo das línguas vernáculas passou a ser sistematizado, dando origem às modernas abordagens gramaticais.


Referências

  • CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Lexikon, 2017.
  • PERINI, Mário A. Gramática descritiva do português. São Paulo: Ática, 2005.
  • AZEREDO et al. Gramática Comparativa Houaiss. Objetiva, 2011.
  • SAID ALI, M. Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
  • MATEUS, M. H; VILLALVA, A. O essencial sobre linguística. Lisboa: Caminho, 2006.
  • POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2002.
  • Enciclopédia das Línguas no Brasil. UNICAMP.