O Classicismo foi um movimento literário, artístico e cultural que floresceu na Europa entre os séculos XV e XVI. Inspirado nos ideais da Antiguidade Clássica, este período também é conhecido como parte da Literatura Renascentista, devido à forte influência do Renascimento e do Humanismo.
Características do Classicismo
O Classicismo buscou a retomada dos valores clássicos, evidenciando uma visão mais racional e equilibrada da vida e da arte. Suas principais características incluem:
- Associação ao Renascimento: integração ao movimento de renovação cultural iniciado na Itália.
- Antropocentrismo: o homem passa a ser o centro das reflexões, em contraste com o teocentrismo medieval.
- Resgate da Antiguidade Clássica: inspiração na cultura greco-romana, com temas mitológicos e pagãos.
- Idealização amorosa: influência do neoplatonismo, que via o amor como um sentimento elevado.
- Carpe diem: valorização do presente e do prazer da vida.
- Universalismo: ênfase em temas universais, em detrimento das particularidades individuais.
- Nacionalismo: exaltação da pátria e dos feitos heroicos nacionais.
- Racionalismo: predomínio da razão na análise do mundo.
- Equilíbrio entre razão e sentimento: busca pela harmonia nas ideias e emoções.
- Temas bucólicos e amorosos: valorização da vida no campo e das relações humanas.
- Presença em diversas artes: literatura, pintura, escultura, música e filosofia.
- Mecenato: financiamento das artes por nobres e burgueses ricos.
- Ampliação da circulação de obras: graças à invenção da prensa móvel.
- Formas literárias predominantes: destaque para o soneto, além da poesia épica, ode e elegia.
- Uso de versos decassílabos: métrica valorizada na poesia clássica.
Contexto histórico do Classicismo
O Classicismo surgiu no início da Idade Moderna, dentro do ambiente cultural transformado pelo Renascimento. Após séculos de domínio da Igreja na Idade Média, mudanças econômicas, sociais e culturais — como o crescimento das cidades, o fortalecimento da burguesia e o aumento do intercâmbio comercial — estimularam novas formas de pensar.
Essas transformações favoreceram o questionamento dos paradigmas medievais e a ascensão da razão humana como referência para o conhecimento e a criação artística. Ao longo dos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica foi progressivamente substituída pelo antropocentrismo.
A invenção da prensa móvel por Gutenberg (1455) revolucionou a comunicação, permitindo a difusão rápida de novas ideias. Outros eventos importantes desse período incluem:
- 1498 – Vasco da Gama chega às Índias
- 1500 – Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil
- 1507 – Leonardo da Vinci conclui a pintura da Mona Lisa
- 1517 – Martinho Lutero publica as 95 Teses
- 1527 – Sá de Miranda retorna da Itália e inicia o Classicismo em Portugal
- 1543 – Nicolau Copérnico apresenta a teoria heliocêntrica
- 1545 – Início da Contrarreforma Católica
O Renascimento, e com ele o Classicismo, teve como berço a Itália, onde nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael Sanzio consolidaram a nova estética artística e intelectual.
Classicismo em Portugal
Em Portugal, o Classicismo começou em 1527 com a volta de Francisco de Sá de Miranda da Itália. Inspirado pelos ideais humanistas e pela poesia de Francesco Petrarca, Sá de Miranda introduziu o doce estilo novo na literatura portuguesa, utilizando as formas renascentistas como o soneto.
Portugal vivia, à época, o auge de sua expansão marítima e de sua prosperidade econômica, o que favoreceu o florescimento cultural.
O maior expoente do Classicismo português é Luís Vaz de Camões, autor de Os Lusíadas (1572), uma epopeia que exalta as conquistas marítimas e o espírito nacional. A obra, composta por 10 cantos, reúne 1102 estrofes em versos decassílabos e é considerada fundamental para a consolidação da língua portuguesa como instrumento literário de alto prestígio.
Trecho de Os Lusíadas:
“As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram; […]”
Além da epopeia, Camões produziu também sonetos, elegias e outras formas poéticas.
Principais autores e obras do Classicismo
- Luís Vaz de Camões (Portugal) – Os Lusíadas
- Miguel de Cervantes (Espanha) – Dom Quixote
- Dante Alighieri (Itália) – A Divina Comédia (embora Dante seja frequentemente associado ao final da Idade Média, ele antecipou aspectos do humanismo renascentista)
- Francesco Petrarca (Itália) – Canzoniere
- Giovanni Boccaccio (Itália) – Decameron
Esses autores contribuíram de forma decisiva para o legado cultural da humanidade, estabelecendo as bases da literatura moderna e valorizando a dignidade e a capacidade criativa do ser humano.